quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Refraseando

"Aqui a idéia transpira."

Fraseada

"Haja hoje para tanto ontem"
Paulo Leminski

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Conto que não vale um conto.


NOVA PARTIDA


Um filme com elenco de segunda e atores baratos, meus textos literários já se parecem com os publicitários. Diferença encontro apenas na perna direita precisamente no tornozelo, ontem me deteve com violência o maldito zagueiro, desferiu uma pancada que travou-me a perna no chão tirando do lugar minha articulação em segundos fez inchar como uma bola meus ligamentos.


Estou sentado no sofá da minha casa com a perna esticada vendo televisão e escrevendo nas folhas da agenda do meu irmão. Meu pé envolto de uma tala de gazes, gesso e faixas, embaixo da tala tem um travesseiro e um edredom, amortecendo a minha dor ao menos dor no meu pé, pois as dores do meu coração não tem cura nem solução, são feridas profundas abertas sem ao menos criar casca.


Durante todo o dia permaneci sentado aqui ou saltitando feito um saci pela casa, apoiado em uma vassoura de pelos que me serve de muleta e não me deixa cair. Hoje justo nesta noite que prometia render os melhores frutos, acontecimentos inesquecíveis e eu continuo preso no sofá vigiado de perto pela minha mãe super-protetora. Há certa altura tentei escapar pela varanda e quando já estava alcançando o portão com saltos precisos ouço o telefone tocar, voltei para atender em pulos rápidos e longos, afinal minha mãe já dormira e levantando para atender notaria a minha ausência. Pimba, minha havaiana escorregou no piso molhado e eu capotei acertando a testa no portal de entrada da casa, recuperei-me do trauma e atendi ao telefone, era minha tia de Florianópolis querendo falar com meu pai.

Agora minha cabeça entrou em parafuso, tenho mesmo que desligar-me deste mundo, pareço ser um personagem num filme com elenco de segunda. Sou o protagonista, mas não recebi roteiro nenhum do diretor, estou sempre improvisando as minhas ações em cima dos erros. Somente erros sucedem os próximos que se emenda com os que virão, já não possa esperar chegou à hora de agir. Vou buscar a liberdade e mostrar para todos quem realmente sou o problema está em descobrir quem realmente sou e o que irei fazer para canalizar todo este potencial me tornando um ser diferente.

Sou a maior ameaça à minha própria existência e ao meu sucesso, sempre me atraso, traio a confiança dos outros, descumpro promessas como um político metido em papo de bêbado. Já se passaram muitos anos e ainda não deixei de roer minhas unhas, não consigo esperar decisão nenhuma. Tenho bastante tempo para poder encontrar um alfinete em um campo de futebol, minha verdadeira força é reluzente como a luz do sol, ainda escondida atrás do horizonte.

Não peço felicidade só quero meu equilíbrio de volta, estou contando apenas comigo, minha equipe quer ser vitoriosa por mérito próprio sem depender de ninguém. Minha equipe é composta de um homem só, articulando a frente da libertação em busca de todas as explicações, cavando fundo na curiosidade buscando somente as verdades.

Muda o elenco e todos os cenários, a partir deste momento eu assumo também a direção. Vou manter em monologo o protagonista, para que possa encontrar a libertação. Esta tala que me prende me ajudou me elevou o pensamento, quando se for levara junto com ela tudo de ruim que acumulei na vida. Estou girando a chave e dando nova partida.


M.A.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Poemeta

QUE FILTRO?

Sentei na messa do trabalho
lançando ao fundo as pernas
no cantinho dos fios
na macarronada de cabos
cabe um 41
um par
deixa escapar um aroma
cutuca as vias aereas
meias encharcadas
num sebo de cabeça de pica
encolhi os dedos com força
pra junto do dorso
de nada adiantava
senti um tapa na cara
um caminhão de lixo me atropelou
ninguém anotou
o valordo calor do cerrado
evaporei pra colaborar
com a umidade relativa do ar
não basta
não vai bastar
não sobraram pelos
pro ar do nariz filtrar.

M.A.

Conto que num vale um conto.


47 GRAMAS


Onze e meia, partimos eu o D'olinda, Pedro e o Neguim. Rumo a um lugar que venda de cinco, nos tempos de hoje não é mais possível encontrar. Tudo quanto é quebrada o dez reina, por mim tanto faz o investimento será o mesmo, são raras as vezes que não embarco no embalo, vamu que vamu e já to dentro do carro. Um fiesta preto modelo antigo, quatro negos e um mentindo, pra ser mais exato omitindo informação. A luz do Giroflex anuncia lá vem o camburão, bate o desespero na hora da anunciação, eu tenho 50g aqui meu irmão, tamu tudo fudido, não tem pra onde correr. O desespero toma conta, vejo pelo retrovissor o gambé chegando cheio de onda, desce desce desce logo daonde vocês tão vindo? sairam da boca né negada? diz ae é melhor confessar se eu achar o barato eu vou te zuar. Pesadinho 47 gramas não assina o 16 vou meter um 12 e formação de quadrilha em vocês. Fomos tudo pro xadrez, o mais engraçado é encontrar lá a maioridade na sabedoria popular, pois o fingimento da rua não passa pelas grades, aqui homem chora calado e a cobra fuma um baseado. Quem num for sujeito homem morre furado.


M.A.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Deixei de ser aquele que esperava, Isto é, deixei de ser quem nunca fui... Entre onda e onda a onda não se cava, E tudo, em ser conjunto, dura e flui. A seta treme, pois que, na ampla aljava, O presente ao futuro cria e inclui. Se os mares erguem sua fúria brava É que a futura paz seu rastro obstrui. Tudo depende do que não existe. Por isso meu ser mudo se converte Na própria semelhança, austero e triste. Nada me explica. Nada me pertence. E sobre tudo a lua alheia verte A luz que tudo dissipa e nada vence. Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A patinha continua só minha.


Casa nova
vida velha
muita dor
pra lembrar
carrego comigo
o sentimento
que grita
pra todo mundo ouvir
o quanto é importante
pra mim
pra gente
um lugar
mais quente
menos úmido
pra nossa filha
latir mais alto
pra nossa vida
dar um salto
de qualidade
bem digo aqui
toda a verdade
tu me conduz
guia serena
o meu caminho
com sua luz
minha casa nova
meu amor eterno
só importa
o quanto é belo
nosso viver
mesmo nos dias
nublados
encontro o sol
e sinto prazer
de ter
casado
logo
com você.


M.C.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pode continuar

Nada como despertar mais um dia e dar de cara com um solão invadindo a sua janela. Não me deixa escolha um dia como esse, levanto da cama sem anotar qual foi o primeiro passo, direito ou esquerdo? Tanto faz essas pequenices não cabem hoje. Vou-me embora pro banheiro, água fria na cabeça pra ativar os neurônios, sabonete espumando os poros, água fria pra enxaguar, expremo o excesso de sabão da bucha, dou descarga na desgraça e vamos lá escovar a chapa. Já bolado na mão, visto rápido a mesma roupa que me vestia ontem, camisa nova, sirvo a ração da cadela, água nova, tanca a casa, vamo simbora. Viro ao lado da academia de ginástica, lá dentro alguns muleques bombados e umas coroas cheias de celulite, atravesso o campinho e toco pra frente, cruzando a favela da fluminese. Meu atalho leva até a avenida Eulher de Azevedo, mão dupla pistas amplas e carros deslizando a mais de 80KMh. Desvio esquio nas duas pistas dos bolidos e chego finalmente ao ponto do bau, saco da mochila um cravo pra aliviar o bafo e embarco pra mais um dia de luta.

Eu vou torcer pela paz, pela alegria e pelo amor.

Prazer e êxtase

O prazer se
faz em êxtase:
quando o
meu corpo,
feito água,
descobre
todos os
caminhos
do seu.
E deixa-se
ficar
onde você
mergulha em
mim.

Stela Fonseca

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O ano começou de verdade ou em busca da simplicidade.


Boa tarde pra quem é de boa tarde, não estamos na China mais por aqui o ano novo só começa de verdade hoje. Mãos a massa meus caros proletários, alguns mais baratos do que os outros, mais todos com o mesmo valor. Eu como todo bom brasileiro reservo-me o direito de cumprir as minhas promessas de fim de ano solamente a partir de agora, já que o feriado de carnaval passou e esse que vos fala como sempre num fez nada de diferente. Passei os dias em meio a nuvem de fumaça, em processo de engorda com tudo o que pedi a Deus: um do bom, comida suculenta, mulher pra conversar e me calar na hora certa. Pode ser que tenha faltado um baile de carnaval ou quem sabe mais visitas aos amigos, mais aos meus olhos o que valeu a pena de verdade foi passar momentos agradáveis de despedida da minha já antiga velha casa, provavelmente me mude neste final de semana para as dependências de um novo bairro, o famoso Santo Amaro, mais perto de mamãe, mais perto da praça onde eu reinei nos tempos aureos de futebol de salão e também pertinho do mercadinho e da famácia e da padoca e da lanchonete. Puta que os pariu, eu nem sabia que gostaria, mais é muito loko você ter conta num buteco, ser considerado na sua quebrada, conhecer as pessoas na rua pelo nome. Pois é sábido que todo mundo neste imundo mundo sonha em bater asas, cair na maldade e evoluir da província onde nasceu, mais bem vos digo eu, que grandeza de carácter vale muito mais do que fama em qualquer lugar, ter à alma limpa requer muito mais preparo e estudo do que qualquer doutorado ou mestrado que se possa fazer na vida. O mais difícil é ser simples neste mundo cheio de intolerância e arrogância, um dia eu espero alcançar do lado da minha pretinha, da nossa cachorrinha e no conforto da nossa casinha a simplicidade. Tô no caminho (eu espero) oferecendo na faixa um conselho pra quem valoriza mais a cifra: dê nada vale o conhecimento sem pureza nos sentimentos. Portanto vamos que vamos, na pureza da flor, na dureza e na dor do espinho, na força, no talento com raça, com muito amor e carinho, um feliz ano do Rato para todos.