segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ataulfo Alves


Voce diz que me da casa e comida
Boa vida e dinheiro prá gastar
O que é que há, minha gente o que é que há
Tanta bondade que me faz desconfiar
Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé
Santo que vê muita esmola na sua sacola
Desconfia e não faz milagres não
Gosto de Maria Rosa mas quem me dá prosa é Rosa Maria
Vejam só que confusão
Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mulheres


Não quero uma mulher
Que seja gorda ou magra
Ou alta ou baixa
Ou isto e aquilo.

Não quero uma mulher
Mas sim um porto, uma esquina
Onde virar a vida e olhá-la
De dentro para fora.

Não espero uma mulher
Mas um barco que me navegue
Uma tempestade que me aflija
Uma sensualidade que me altere
Uma serenidade que me nine.

Não sonho uma mulher
Mas um grito de prazer
Saindo da boca pendurada
No rosto emoldurado
No corpo que se apoie
Nas pernas que me abracem.

Não sonho nem espero
Nem quero uma mulher
Mas exijo aos meus devaneios
Que encontrem a única
Que quero sonho e espero
Não uma, mas ela.

E sei onde se esconde
E conheço-lhe as senhas
Que a definem. O sexo
Ardente, a volúpia estridente
A carência do espasmo
O Amor com o dedo no gatilho.

Só quero essa mulher
Com todos seus desertos
Onde descansar a minha pele
Exausta e a minha boca sedenta
E a minha vontade faminta
E a minha urgência aflita
E a minha lágrima austera
E a minha ternura eloquente.

Sim, essa mulher que me excite
Os vinte e nove sentidos
A única a saber
O que dizer
Como fazer
Quando parar
Onde Esperar.

Essa a mulher que espero
E não espero
Que quero e não quero
Essa mulher porto esquina
Que desejo e não desejo
Que outro a tenha.

Que seja alta ou baixa
Isto ou aquilo
Mas que seja ela
Aquela que seja minha
E eu seja dela
Que seja eu e ela
Eu ela eu lá nela
Que sejamos ela.

E eu então terei encontrado
A mulher que não procuro
O barco, a esquina, Você.
Sim, você, que espreita
Do outro lado da esquina, no cais,
A chegada do marinheiro
Como quem apenas me espera.

Então nos amarraremos sem vergonha
À luz dos holofotes dos teus olhos,
E procriaremos gritos e gemidos
Que iluminarão todas as esquinas.

Será o momento de dizer
Achei/achamos amei/amamos
E por primeira vez vocalizar o
Somos, pluralizando-nos
Na emoção do encontro.

Essa a mulher
que não procuro
nem espero.
Você, viu? Você!

Bruno Kampel

bandeirada


Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa...flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes''
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira

A dependente Química

Eliane era uma jovem bonita, cheirosa e de classe média achatada.
Sempre teve uma boa educação, seu pai era um metalúrgico aposentado da finada Cofap e sua mãe, dona de casa com dotes culinários invejáveis.
Eliane trabalhava em um escritório de advocacia, e a coitada sofria hein, pois não passava de uma estagiaria com uma remuneração de dar dó, até a própria condução ela tinha que subsidiar.
Na hora do almoço sempre abraçava um sanduba de mortadela frita com queijo branco e um guaraná Dolly caçulinha na padoca do Ananias; pra economizar a grana que seu pai lhe para comer, Elaine sujeitava-se a baixa gastronomia.
A coitada era uma zerada total, mas tinha um agravante, aos longos dos anos Eliane tornou-se uma dependente química. Gastava o que não tinha para satisfazer a suas vontades e seguir tendências; ela adorava umas "novidades", era isca fácil da 'mídia porta a porta'.
Sua conta corrente parecia o primeiro uniforme do Internacional de Porto Alegre, de tão vermelha que já tava; o único cartão que tinha e ainda possuía algum credito, era o telefônico com 10 unidades e nada mais; e mesmo assim prorrogava umas comprinhas a perder de vista.
Seus pais e amigos tentavam lhe ajudar, mas esforços eram em vão; Pois a sua dependência química extrapolava a normalidade.
Certo dia, Eliane foi internada em uma clínica de reabilitação para dependentes, ficou 8 meses em tratamento. Plantou alface, couve, mandioquinha, e bordava um panos de prato para passar o tempo; quando deixou a clínica disse:
- Se alguma desgraçada me aparecer com aquelas revistinhas da Natura ou da Avon eu mato essa filha da puta!

Niell

Achado no SaravaClub.blogspot.com
Ouvindo: Aquele mano na porta do bar - Rac...
Medo de Amar é o Medo de Ser Livre

O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz

Elis Regina