segunda-feira, 5 de maio de 2008

Conto por metro.




Sujo.



Matou no peito

com exatidão

deixou colado

daquele lado esquerdo

fez vir ao chão

com muito agrado

obedecendo o compasso

86 bpm

subindo a rotação

tudo a sua volta

explodia em couro

a voz do povo

ganha força no refrão.

Estava inspirado

muito mal intencionado

tirava onda com toda a marcação

um sorriso maroto

quase originou uma expulsão

de antemão dava um drible

e repetia com ironia

“ficou”

o adversário mordido

perseguia butinava

beliscava xingava e cuspia

o juiz não via nada

mais isso não o preocupava

ele ia pra cima

gargalhava com magia

toques de picardia

passes de três dedos

biscadas e beijos

pras meninas da torcida

uma alegria que contagiava

cheio de pirraça

buscava o zagueiro mais pateta

e irritava

sambava malevolente

exibia a sua ginga

divertia-se com a torcida

os aplausos são sua vida

sem uma fração de segundos

o zagueiro ficou para trás

o segundo escolheu o caminho errado

logo após um drible de corpo

bem elaborado

o goleiro tentando ser mais rápido

se jogou no gramado

deslizando de lado

pena que passou lotado

e o atacante como toda boa estrela

na reta final perdeu as estribeiras

não satisfeito em empurar a bola

pra já aberta porteira

tentou dar um drible no vento

e tropeçou no próprio ego

do modo mais violento

no exato momento

em que foi acenar

para as câmeras da globo

o menino caiu feito bobo

batendo o nariz no solo

e arrebentou o narizão no chão

todo elameado

viu de canto de olho

o tamanho do estrago

e a bola saiu

mansamente pela linha de fundo

descobriu da pior forma

que o pior sujo

é aquele que está imundo,

por dentro.

Ouvindo: Elza Soares - Haiti.

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